Admirável Mundo Novo

Contextualizando a obra

Admirável Mundo Novo, obra de Aldous Huxley, foi publicado em inglês anteriormente à chegada de Hitler ao poder na Alemanha (1933). Anunciava e denunciava a perspectiva mórbida de uma sociedade totalitária fascinada pelo progresso científico e pela “felicidade obrigatória”.

Tal era a visão alucinada de uma humanidade desumanizada por um rígido sistema que a mantinha dopada pelo prazer (pílula: o “soma”). Nessa sociedade, pautada em fins eugenistas e produtivistas, a sexualidade é obrigatória e a procriação negada.

Huxley foi um visionário da visão pessimista do futuro, ao fazer uma abordagem crítica do culto positivista à ciência, após os efeitos da grande crise de 1929 – que afetava as sociedades ocidentais e que colocava em risco os regimes democráticos.

 

Minha experiência

Li este livro na minha adolescência. Mais adiante, assisti ao filme. É chocante. Se eu não estivesse passando pelos tempos atuais, sempre o consideraria uma ficção. Mas a ficção tornou-se realidade. A partir do momento em que os valores humanos têm menos valor do que o poder, o prazer e o dinheiro, a humanidade está em risco.

Esse sistema não considerava imperfeições nem questionamentos. Tudo estava “embrulhado”, pronto, não havia um espaço para existir. Quem tentava quebrar um pouco essa realidade era logo retirado e anulado, como um “mal” que não poderia permanecer, um risco grande à perfeição instaurada.

Nessa toada, destaco aqui uma cena forte: um homem teve sua identidade manipulada e substituída por um arquivo digital. Ele começou a sentir no corpo e na mente algo que ele não era, um ser muito destrutivo e do qual não tinha o menor controle. No desespero, acabou se matando. Não havia ali espaço algum para o sofrimento.

Nesse livro, a sociedade se encontrava entorpecida de felicidade até o momento em que entrou no sistema um homem – chamado de “selvagem” – um humano que havia escapado e estava tendo uma vida normal. Ele questionou aquela “felicidade petrificada e estranha” – as pessoas comemoravam até a morte com bexigas e sorrisos – e disse indignado que estava tudo errado. Citou Shakespeare. Tentou recuperar alguma conexão com a humanidade, mas foi tido como louco e foi banido.

Praticamente todos estavam imersos ali, robóticos. Apenas uma mulher, que tinha alguns resquícios de humanidade, impressionou-se com o discurso daquele selvagem. Ela conseguiu se identificar com o amor e com o sofrimento. Seguiu aquelas palavras, conseguiu fugir e ter seu filho de modo natural, fora daquele sistema.

 

O que eu trago de reflexão

Muitas vezes se chocar com a realidade, ficar deprimido, com medo, indignado, é o que nos mostra o nosso lado humano. É preciso olhar atentamente para isso, conectar-se, respeitar, ter empatia, humanizar-se. Meu pai sempre me dizia: “Não acredite no que te dizem, questione tudo”. E assim sou.

Creio que o que nos desumaniza é ter certezas demais. É estar num invólucro em que “só entra quem concorda comigo”. É preciso suportar os questionamentos, as dúvidas, a dor e a delícia de ser quem se é, como dizia o poeta. E não se identificar com a fala arrogante de que “quem não se render a esse ‘sistema perfeito’ está fora, é um inimigo”. Isso tem nome: “intolerância”, como escrevi num outro post. Convido a mais essa leitura.

É preciso compreender que o Bem e o Mal estão dentro de nós, e que cabe a cada um alimentá-los diariamente, de acordo com o livre-arbítrio. Mas é preciso arcar com as consequências, sem se esquivar da condição humana/desumana que nos é intrínseca.

 

Referência:

RAMONET, Ignacio. A atualidade chocante de Admirável Mundo Novo. Disponível em: <https://outraspalavras.net/posts/a-atualidade-chocante-de-admiravel-mundo-novo/>, acesso em 25/10/2018.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), Psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae) e Psicanalista. Atende na clínica com psicoterapia (enfoque psicanalítico) e coaching em resiliência (controle do estresse) – consultório em Pinheiros (São Paulo). Ministra palestras e treinamentos comportamentais in company pela sua empresa Ponto de Palestras e Treinamentos. Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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