Atenção Plena e o poder da linguagem

Atenção Plena: quando estamos no automático, não estamos presentes

Ao estarmos presentes, permitimos ao outro sua existência.

 

Atenção plena é a capacidade de estarmos atentos ao momento, reconhecer e sair do automatismo da linguagem, e fazer-se presente para si e para o outro. E, por mais simples que isso possa parecer, não é tão fácil de conseguirmos, pois vivemos na repetição de nossos hábitos, perdidos em zilhões de possibilidades que nos aparecem diariamente nessa frenética era digital.

 

Reconhecendo o automatismo na linguagem

Recentemente, li uma matéria que considerei muito boa, intitulada: “Pare de dizer às pessoas que elas são guerreiras e poderão vencer doenças incuráveis”, tradução de Kathryn B. Kirkland. Em síntese, ela aborda o fato de termos uma linguagem imprópria ao exigirmos de uma pessoa que tem uma doença incurável algo que ela não pode realizar: curar-se pelo próprio desejo. Falar de modo encorajador: “Você pode vencer isso” é negar a situação, ao invés de ajudá-la a suportar a situação. Reconhecer nossa impotência diante disso e ainda assim estar aberto a perguntar verdadeiramente: “Posso ajudar a você a lutar pelo que?”.

A partir dessa reflexão, chamo atenção às frases-clichês, conselhos e ditados prontos que usamos como coringas em nosso dia-a-dia, em livros, diálogos, reuniões, posts e etc. Tal linguagem automática se encaixa em todas as situações que se repetem em nossas vidas e carregam uma visão aparentemente compreensiva pelo que o outro está passando, mas, quando olhada de perto, nem tanto. Um exemplo bem comum é quando perguntamos a alguém: “E aí? Tudo bem?” e não esperamos nada além de outro “tudo bem” quando, na maioria das vezes, não fazemos questão de saber se a pessoa está realmente bem.

 

O que a linguagem da comunicação automática faz com você

Os ditados, conselhos ou frases-clichês se ajustam às relações como se todas as pessoas fossem iguais, pois fazem uso da generalização. No entanto, segundo os autores americanos Richard Davidson e Sharon Begley, não existe nada que sirva para todos da mesma maneira, pois cada um de nós interpreta e vive a realidade de um modo singular, de acordo com seu estilo emocional – tema do nosso próximo post.

O que considero realmente relevante neste caso é reconhecer que quando fazemos uso de algo que “serve para tudo” e que é aceito socialmente, estamos livres da responsabilidade daquilo que falamos. Em outras palavras: falamos qualquer coisa. E fazer isso é preencher o presente com a ausência (nossa e do outro), é não ver aquilo que está ali, acreditando que “já sabemos” e portanto não precisamos ver, rever, pensar, repensar. Algo do tipo: “Sei o que você está sentindo, pois já passei por isso”, pode ser muito amável, mas não é verdadeiro. De fato, não sabemos.

A questão que fica é: Será que estamos mesmo dispostos a enfrentar as vulnerabilidades – nossas e as dos outros?

 

Como desenvolver atenção plena em situações de vulnerabilidade

Em Psicanálise, somos treinados a investigar tudo o que se apresenta. Não aceitar apenas aquilo que vem explícito no discurso do paciente, mas buscar realmente entender o que ele(a) quis expressar com aquilo. Essa análise do discurso revela aquele que fala e o responsabiliza, fazendo-o existir, estando realmente dispostos e investigar que sentimentos e pensamentos serão decorrentes, sem nada prévio que preencha, do tipo: “Imagino que você deva estar sofrendo muito”. Não sabemos e não devemos supor.

É importante estar presente e aberto às vulnerabilidades proporcionadas pelas diversidades da nossa condição mental. Assumir tal circunstância – da impotência do não saber – é estar aberto para o momento: de como aquele que ali está pode se mostrar a nós e de como nós poderemos responder diante daquela situação.

Se você considera que o assunto aqui tratado é importante, mas quer aprender como faz isso, escreva para mim (contato@cristinamonteiro.com.br) e fique atento aos novos cursos sobre mindfulness/atenção plena e os de comunicação, tal como mencionei no post: A importância do grupo nos programas de Mindfulness – Atenção Plena.

 

Referências:

DAVIDSON, Richard J. e BEGLEY, Sharon. The emotional life of your brainO estilo emocional do cérebro. trad. Diego Alfaro. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

 

KIRKLAND, KATHRYN B. Pare de dizer às pessoas que elas são guerreiras e poderão vencer doenças incuráveis, disponível em: <https://nofinaldocorredor.com/2017/12/31/pare-de-dizer-as-pessoas-que-elas-sao-guerreiras-e-que-poderao-vencer-doencas-incuraveis/>, acesso em 13.01.2018.

 

Grande abraço,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Coach (Resiliência) e Instrutora de Mindfulness. Escritora (crônicas literárias, artigos acadêmicos e profissionais). Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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