Como adquirir novos hábitos pela meditação mindfulness

Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito. Aristóteles

O que é um hábito?

Hábito pode ser definido como uma maneira permanente ou frequente de comportar-se. Muitas vezes pode ser visto de modo negativo, ao qual não temos controle ou reflexão, compreendido como algo que atrapalha nossa entrega para o novo. No entanto, também pode ser visto de modo positivo, tomado como uma maneira prática de lidar com a vida e reagir com menos esforço a situações familiares.

 

O hábito e o corpo

O hábito começou a ter sua importância no sentido da dominação sócio-cultural que se exercia também a nível corporal – como bem menciona Foucault em “Corpos Dóceis” em sua obra Vigiar e Punir no final do século XVIII. Em oposição a essa visão de submissão, nos dias atuais, temos a retomada do controle do corpo como eixo central para um saber reflexivo associado a técnicas de bem-estar e saúde, tal como o yoga postural moderno, tornando o corpo passível de se modificar, manter ou ser criado na própria ação escolhida.

Crossley, baseando-se nas ideias de Bourdieu, comenta a importância do corpo na estruturação do hábito (habitus) e na construção social do mesmo e destaca que o este funciona “abaixo do nível de consciência e linguagem, além do alcance de um exame ou controle introspectivo pela vontade “. Menciona também o pensador fenomenológico Merleau-Ponty, que argumenta que por meio da tomada de consciência de nossos próprios pensamentos através da linguagem (fala ou pensamentos) podemos entrar em diálogo, ou discussão, com nós mesmos.

No entanto, convém considerar que nosso potencial de transformação em relação ao hábito é inevitavelmente limitado, porque nossos hábitos de pensamento não podem deixar de moldar as conversas que temos com nós mesmos bem como o enraizamento em nossos contextos sociais.

Cabe a nós indagar-nos sobre a relação que temos com nosso corpo em uma diversidade de contextos e, neste âmbito, articular a relação entre o hábito e o desenvolvimento de uma postura crítica e auto-reflexiva.

 

Meditação Mindfulness: uma relação entre reflexão e hábito

Por meio da meditação da atenção plena, as pessoas podem se perguntar que tipo de representações coletivas estruturam o hábito que está sendo desenvolvido, ao se questionarem sobre os hábitos que apresentam como problemáticos e questionarem seu porquê.

Com isso, proporciona-se a saída do “piloto automático” – um estado em que a mente é passiva: “permitir-se ser levado por pensamentos, memórias, planos ou sentimentos”. Aqui, nossos padrões habituais de pensamento transformam um sentimento/pensamento negativo fugaz em uma forma mais persistente de negatividade ou ruminação. O pensamento ruminativo tenta “resolver problemas”, levando-nos de volta aos tempos passados, num “esforço para entender o que deu errado” ou para nos projetar em futuros imaginados.

Cultivar um novo hábito de atenção permite ao eu reflexivo investigar curiosamente e sem julgamento as preocupações que, de outra forma, poderiam ter impulsionado para pensamentos e ações prejudiciais. Este novo hábito também atende ao imediatismo dos contextos em que a atenção plena é praticada, mas a orientação é estar atento ao momento presente contrariamente a uma maneira mais analítica e de resolução de problemas.

Tal prática contemporânea visa que os participantes desenvolvam consciência de hábitos incorporados duradouros, tanto em rotinas “externas” quanto em processos mentais “internos”. Fazer meditação consciente pode não apenas oferecer uma ruptura imediata de rotinas estressantes de trabalho e de casa, como pode inclusive mudar a relação do participante com esses estressores, proporcionando uma melhor qualidade de vida.

 

REFERÊNCIA:

LEA, Jennifer; CADMAN, Louisa; PHILO, Chris. Changing the habits of a lifetime? Mindfulness meditation and habitual geographies. Cultural geographies 2015, Vol. 22(1) 49–65.The Author(s) 2014 Reprints and permissions: sagepub.co.uk/journalsPermissions.nav. DOI: 10.1177/1474474014536519. Disponível em: <cgj.sagepub.com>.

 

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Grata,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Coach (Resiliência) e Instrutora de Mindfulness. Escritora (crônicas literárias, artigos acadêmicos e profissionais). Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

5 Comentários


  1. Seu texto é um convite a pausa, a reflexão!
    A maneira como adquiro novos hábitos ou cultivo os já adquiridos podem influenciar muito nas situações estressantes de minha vida.
    Práticas de meditação são libertadoras do corpo e da mente. Tudo está interligado. Por meio de tais práticas podemos melhorar a relação que temos com nós mesmos. A forma como usamos o nosso corpo, como o conhecemos, influi significativamente na nossa autoestima, saúde e bem estar.

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    1. Olá Silvia

      Excelente comentário.

      Isso mesmo: meus artigos costumam ser um convite à reflexão sobre como pensamos e levamos a vida.
      A meditação é uma prática que, a partir do hábito de treinar o corpo e a mente, em congruência, aprendemos a ter controle sobre a única coisa que podemos de fato controlar em nossas vidas: nossa mente. Com isso, permitimos uma reintegração e temos uma melhoria em nossa saúde mental.

      Forte abraço,

      Cris M.

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    1. Que ótimo saber! Fique atento aos programas de mindfulness e aproveite para se inscrever e aprender ainda mais. Obrigada.

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