Culpa: como lidar com a essa prisão

A base da compaixão é a compaixão por si mesmo.

Pema Chodron

culpa

A base da compaixão é a compaixão por si mesmo.

Pema Chodron

Comentário sobre o filme: Assassinato no Expresso do Oriente

O “Assassinato no Expresso do Oriente”, uma narrativa de Agatha Christie, é um filme que traz uma reflexão que eu gostaria de abordar. Ele comenta uma situação em que ocorre um crime em que todos se sentem culpados. Numa situação em que todos são culpados, estamos entre duas opções: ou todos de fato mataram, cada um à sua maneira, ou, se não for isso, não há como definir culpados.

Saindo da questão “lógica” e indo para um olhar mais reflexivo, percebemos que, no íntimo, todos se sentiam culpados de alguma forma. E isso é algo que se estende à nossa vida: nós carregamos pesos, culpas, dores, mágoas, enfim, vivemos carregados de sofrimentos que nós mesmos causamos. Sofrimentos que estão além daquilo que de fato aconteceu, mas que vêm numa sobrecarga desgastante e que nos sufoca ao longo da vida.

No entanto, em determinado momento do filme esta questão reflexiva é revelada e todos se dão conta do peso que carregam. E, ao mesmo tempo, são libertos para novas chances.

Se sentimos culpa, é porque tememos magoar e perder o outro e, portanto, o outro importa em nossas vidas. Se o outro importa, podemos falar em empatia. Por outro lado, o excesso de culpa nos mantêm curvados, cegos para nós mesmos e para o mundo. Ele faz com que acreditemos que a nossa dor é maior do que a dor alheia, que o nosso problema é grande demais e ainda que não somos merecedores do novas chances. Tornamo-nos verdadeiros prisioneiros de nosso sofrimento e muitas vezes nos identificamos cegamente com a postura de vitimização a que nos submetemos.

 

Por que nos autoflagelamos?

Vale considerar que o sofrimento não é abstrato ou conceitual, ele é corporificado, ou seja, é sentido no corpo e age por meio de mecanismos corporais.

Além disso, o cerébro é atraído por más notícias, apresenta sensibilidade pois são as experiências negativas, que normalmente têm mais impacto na sobrevivência. “As experiências ruins criam círculos viciosos, tornando a pessoa pessimista, reativa e inclinada a se ver de maneira negativa” (HANSON, 2012).

 

Dê a si mesmo novas chances

Nossa vida é como um dia comum: ela chega ao fim sem que tenhamos terminado de fazer tudo o que havíamos planejado, ela é guiada muito mais por nossas crenças e valores do que pelo acaso, porque ela é uma reprodução daquilo que criamos em nossa mente.

Ao final do dia, você pode avaliar o que fez, o que deixou de fazer, o que foi possível cumprir com o planejado, o que foi casual, o que vale a pena ser mantido e o que não. E dar por encerrado estando quite com você mesmo, ainda que não esteja do jeito como você imaginou.

É importante equilibrar seu dia ao estar no controle do que realmente coincide com seus valores e crenças, àquilo que é importante para você, considerando a importância de deixar um espaço para as questões circunstanciais (o bate-papo presencial ou no whattsapp) e urgentes que emergirem (o real inesperado).

 

Mindfulness (atenção plena): uma experiência aplicada

Segundo a obra O cérebro de Buda, ao longo da evolução foram criadas estratégias de sobrevivência que podem nos ser úteis até hoje:

  • Criar diferenciações – estabelecer limites entre si e o mundo;
  • Manter estabilidade – manter os sistemas físico e mental em equilíbrio;
  • Abrir-se a oportunidades e fugir de ameaças – desenvolver recursos para estar apto ao que visa dar continuidade à vida e à espécie, bem como resistir àquilo que ameaça.

 

Quem já fez meu curso, poderá identificar na explicação acima a estratégia da meditação da ampulheta: três estágios:

  • Pele para dentro – verificação dos limites entre si e o mundo, percepção corporal;
  • Respiração – foco na inspiração e na expiração, buscando estabilidade;
  • Pele para fora – retomar o contato com o externo, abrir-se para o novo momento.

 

Quanto mais habilidosos somos em lidar com nossa mente e com nosso cérebro, mais perto chegamos de trilhar um caminho melhor em nossas vidas. Entender o sofrimento e a culpa é o caminho para aprender a lidar com eles e trilhar uma vida significativa.

 

Referência:

HANSON, Rick. O cérebro de Buda: neurociência prática para a felicidade. 1. ed. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.

 

Grande abraço,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga Clínica, Psicopedagoga, Coach (Resiliência) e Instrutora de Mindfulness. Escritora (crônicas literárias, artigos acadêmicos e profissionais). Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contato: contato@cristinamonteiro.com.br

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