INTOLERÂNCIA: A LUZ QUE ILUMINA É A MESMA QUE MATA

fogo

“A pretensão de posse da verdade torna impossível a tolerância”.

Rubem Alves

 

No último post, comentei sobre o movimento de busca do equilíbrio Yin Yang que começa nas relações que temos com nós mesmos e se estende a relações que temos com o outro. E desejei, ao final, que o dia 12 fosse um Dia dos Namorados (como é comemorado no Brasil), com muito equilíbrio e plenitude. Infelizmente, foi nesse mesmo dia que, em Orlando, vários foram feridos e outros tantos mortos no ataque armado a uma boate voltada ao público LGBT, que deixou 50 mortos, incluindo o atirador, e outros tantos também ficaram feridos.

Pelos cenários que temos presenciado, pouco temos evoluído em relação a este equilíbrio. Estamos vivendo um constante desequilíbrio, notadamente no que tange a intolerância. A intolerância* continua de diversas formas, frequentemente resultando em constantes conflitos armados. Em relação a este conceito, temos diversos vieses a observar.

Nietzche apresenta a seguinte visão: “a serpente que não pode livrar-se de sua pele perece. O mesmo acontece com os espíritos que não podem mudar suas opiniões. Cessam de ser espíritos”. O homem resiste a ideias novas e sua primeira reação é conservar as ideias e valores conhecidos.

Quanto ao enfoque psicológico, predomina o conceito de que com a cultura, o processo de convívio social e noções éticas, o indivíduo conseguiria desenvolver mecanismos de controle sobre seus impulsos agressivos e sobre sua intolerância natural. Para Sigmund Freud, existem dois desejos fortes e ameaçadores ao homem: o desejo de dominação e a busca de sentir-se completo, sem carências. Assim, quando o homem se encontra diante de uma situação que contraria esses dois elementos, gera um sentimento de estar sendo ameaçado e, diante disso, a intolerância surge como sua maior defesa.

A intolerância carrega a história de choques entre ideias novas e antigas, em violência proporcional ao dogmatismo de cada lado. O progresso se constrói ou na medida em que o novo consegue que o antigo não se sinta ameaçado. Em defesa da própria segurança interior, muitas injustiças podem ser praticadas. Somente com a reconstrução do conceito de tolerância é que se torna possível a investigação constante da verdade.

CrisM. é Cristina Monteiro – Psicóloga Clínica (PUC-SP), Psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae), Coach em Resiliência (Sociedade Brasileira de Resiliência) e Palestrante (Ponto de Palestras e Treinamentos). Autora de diversos livros, artigos corporativos e científicos e deste blog. Budista, apaixonada pela vida, pelas reflexões e pelas palavras que contornam e elaboram novas possibilidades de existir.

*INTOLERÂNCIA, João Marcos Varella, disponível em: http://sobrare.com.br/Uploads/20121128_intolerncia.pdf

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