Não se omita, exista!

“A única coisa necessária para perpetuar o mal é que as pessoas boas se omitam. Não basta não fazer nada. Não fazer nada é concordar.”

Jane Elliot – 1968/EUA

 

Sobre o documentário Olhos Azuis

Olhos azuis é um documentário americano da década de 1960 sobre as experiências da professora e socióloga Jane Elliot sobre racismo e discriminação. Em um de seus workshops sobre racismo, seu objetivo era fazer com que pessoas de olhos azuis se sentissem na pele de uma pessoa negra por um dia, ou melhor, por duas horas e meia.

Elliot, assim como Hitler, determinou quem iria para a câmara de gás pela cor dos olhos e, desse modo, usou o poder sobre o outro por uma característica incontrolável. Para isso, ela rotula tais pessoas baseando-se apenas na cor de seus olhos, com todos os rótulos negativos e preconceituosos usados tão cotidianamente contra mulheres, negros, homossexuais, pessoas com deficiências e todas aquelas que de alguma forma não fazem parte do padrão vigente.

Nesse documentário, questões conflituosas são trazidas à tona, como, por exemplo, a construção social do papel do opressor e o quanto o coletivo contribui com seu silêncio.

 

Dê poder a uma pessoa e saberá quem ela é

Segundo Elliot, o uso do poder com tranquilidade é algo assustador. E mais assustador ainda é pensar que essas pessoas não são necessariamente más, mas acreditam estarem fazendo o que é certo, cumprindo ordens de alguma forma. E, aos que obedecem, resta aceitar a submissão à tirania.

Nesse experimento, uma das manobras utilizadas por Jane foi dar uma ordem e, em seguida, dar uma ordem contrária ao participante. Com isso, aquele que obedece nunca sabe ao certo o que fazer. Ele estará sempre num conflito interno, culpabilizando-se, e perderá muito mais tempo para se tolerar do que disponível para aprender coisas novas. Estará sempre devendo para a vida.

 

A indiferença mata

A professora comenta algo óbvio, mas a ser notado: a humilhação que as pessoas sem poder sofrem não incomoda aos que estão no poder. E tampouco incomoda quem não está sendo coagido. Afinal, se não é comigo, estou em paz neste momento, certo? Ledo engano. Se você não se incomoda e não considera estar se arriscando, é porque não tem nada a perder. Aí é que mora o perigo.

Jane nos conta a história a seguir:

“No final da segunda guerra mundial, quando eles limpavam os campos de concentração, um ministro luterano disse: ‘Quando se voltaram contra os judeus, eu não era judeu, e não fiz nada. Quando se voltaram contra os homossexuais, eu não era homossexual, e não fiz nada. Quando se voltaram contra os ciganos, eu não era cigano, e não fiz nada. Quando se voltaram contra mim, não havia ninguém para me defender.’ Pensem sobre isso.” (Jane Elliot)

 

O que está nas nossas mãos?

Nesse documentário, a socióloga aborda que você pode até perdoar o que alguém fez a você, mas não tem como perdoar o que alguém a outros. Essa é a nossa responsabilidade social.

Ela também menciona algo belíssimo: se há algum lugar onde uma pessoa oprimida pode vencer é dentro de si mesma, pois ali, ninguém saberá.

Em uma experiência de um dia, Jane conseguiu mobilizar as pessoas para o preconceito e o olhar negligente que perpetuamos diariamente. E isso fez uma diferença significativa na vida delas, para que elas não fizessem parte dessa corrente.

E você? Como lida com isso?

 

Referências

Olhos Azuis | Documentário | Jane Elliott. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XUEAgbLIKeQ>, acesso em 28/09/2018.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), Psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae) e Psicanalista. Atende na clínica com psicoterapia (enfoque psicanalítico) e coaching em resiliência (controle do estresse) – consultório em Pinheiros (São Paulo). Ministra palestras e treinamentos comportamentais in company pela sua empresa Ponto de Palestras e Treinamentos. Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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