O papel do psicanalista e o sentido da análise

Nossa bússola já existe e está dentro de nós. Não há acertos ou erros. Só há tentativas.

 

Paralelo com o filme “O Encantador de Cavalos”

Recentemente, assisti novamente ao filme clássico “O Encantador de Cavalos” (original “The Horse Whisperer”), de 1998, dirigido e estrelado por Robert Redford, baseado no livro de 1995 de autoria de Nicholas Evans sobre um talentoso treinador de cavalos.

A seguir, uma breve sinopse do filme:

“Uma adolescente (Scarlett Johansson) em companhia de uma amiga sofrem um acidente quando andavam a cavalo e são atropeladas por um caminhão, sendo que sua colega morre e ela perde uma perna. Seu cavalo fica também bastante ferido e querem sacrificá-lo. Mas a mãe da jovem (Kristin Scott Thomas), editora de uma conhecida revista, não autoriza que o matem e tenta trazer para Nova York um especialista em cavalos (Robert Redford) que se recusa a ir. Assim, a mulher deixa o marido (Sam Neill) em casa, põe a filha no carro, o cavalo em um trailer e viaja até Montana para conhecer este rancheiro, esperando que ele ajude a curar algumas feridas internas, tanto da sua filha quanto do animal. O processo de recuperação é lento, mas após algum tempo os resultados começam a aparecer e paralelamente a editora e o rancheiro se apaixonam.”

 

Analistas podem ser verdadeiros “encantadores de pessoas”

Este filme chamou-me a atenção devido ao modo como o “encantador de cavalos” agia, tanto com os animais, como com as pessoas.

No caso do cavalo principal do filme, ele ficava horas contemplando-o, aproximou-se lentamente, verificou as potencialidades e vulnerabilidades, tentou conhecer sua história também pela família. Demonstrou-se interessado, empático e compassivo. Por fim, também assertivo.

Toda essa postura declarava que ele estava atento ao tempo daquele animal e daquela família: não precisava adiantar-se, nem mesmo demonstrar resultados imediatos. Apenas fez questão de verificar, desde o princípio, o comprometimento da menina, a principal interessada, em fazer parte daquele processo.

 

Será que ainda temos esse modo de agir na clínica?

Hoje, com tudo muito rápido e focado em resultados, sinto que até a clínica está um pouco distante dessa realidade. Será analista quieto e bastante atento está caindo em desuso? Aquele que ficou conhecido negativamente como tendo “olhar de paisagem”?

Uma análise é assim: exige paciência de ambos os lados, demanda tempo para maturar as vulnerabilidades, aceitá-las, ressignificá-las… Não creio haver resultados valiosos sem a quietude interna que é obtida pela quietude do ambiente (setting terapêutico). Não há nada mais importante a se fazer antes de existir ali um sujeito inteiro, apesar de ter chegado, muitas vezes, despedaçado.

O papel do analista consiste, portanto, em ficar ali, olhando e ouvindo atentamente aquela pessoa repleta de feridas internas, comunicadas verbalmente, não-verbalmente e mesmo as angústias incomunicáveis. Num primeiro momento não há nada a fazer, apenas acolher, não há orientações claras ao paciente para o que se deva fazer.

As palavras do paciente narram sua história. O analista apenas sustenta, com o olhar e algumas perguntas investigativas. Pode até arriscar uma afirmação para verificar se assim segue o caminho do paciente, mas não o contrário, no sentido de orientá-lo. A orientação vai vir do próprio paciente, a seu tempo. E cabe a nós saber suportar e ajudá-lo a suportar esse processo e ir, aos poucos, atrelando-o às teorias estudadas, sempre tendo em vista a singularidade da história daquele paciente.

 

Referência:

http://www.brasilhipismo.com.br/noticias/o-encantador-de-cavalos-dirigido-e-estrelado-por-robert-redford-assista-ao-trailer

 

Grande abraço,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Coach (Resiliência) e Instrutora de Mindfulness. Escritora (crônicas literárias, artigos acadêmicos e profissionais). Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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