Palestrante e seu poder como facilitador

Ser palestrante é uma das profissões mais desejadas no século XXI. Aqueles que buscavam ser estrelas, símbolos de sucesso, com salários exorbitantes e imagens estampadas em sites e capas de revista. No entanto, não é sobre tal aspecto que me dispus a escrever hoje. Mas, para isso, vou contar um pouco da minha trajetória e do lugar em que me construo como palestrante.

Minha trajetória como palestrante

“Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam Grandes”. G.K.Chesterton

 

Ministro palestras e treinamentos há mais de dez anos – desde a época da faculdade. Iniciei no Pró-Concurso Educacional – com o apoio do meu grande e querido pai, Luiz Monteiro (que aqui me lê em algum lugar sagrado), com quem ministrei diversos treinamentos e palestras em nossos quatro anos de empresa – com palestras preparatórias para concursos públicos, e continuei com treinamentos em empresas e instituições educacionais. Adoro falar em público. Mas mais do que gostar de falar, gosto de usar esse “lugar de palestrante” para ouvir e desenvolver pessoas.

A seguir, irei mencionar duas histórias como referência para esclarecer o sentido da minha trajetória nesta explanação.

 

I. A História do Raul

“Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo.”

Samuel Butler

 

Você conhece o texto “O Raul” de Max Gehringer, que conta a história do Raul e do Pena?

Já cheguei a utilizar em treinamentos essa história. Em síntese, o Pena era competente e individualista e era valorizado pelos seus feitos; e o Raul, apoiava sempre o Pena, passava quase despercebido, e preocupava-se em destacar o valor de cada um do grupo, sem sentir-se diminuído por tal postura.

Raul entendia de gente, e fazia-o tão bem que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem mais produtivos. Constituía um exemplo do comportamento de um verdadeiro líder: disposto a servir e desenvolver pessoas.

 

II. Peça “TOC TOC” e a importância do protagonista

Quem nunca ouvir falar da peça – e agora também filme – “TOC-TOC“?

Sucesso desde 2008, com diferentes elencos, tal comédia traz seis personagens que apresentam algum tipo específico de TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo, doença que atinge parte da população mundial) e que vão ao mesmo psiquiatra. Chegando lá, todos aguardam na sala de espera do consultório e descobrem que foram agendados para o mesmo horário. Como o psiquiatra se atrasou muito, sem tomar consciência, eles dão início a uma sessão de terapia de grupo ali mesmo. A trama acontece em meio a brigas, crises e risadas ao enfrentar as dificuldades em se lidar com cada tipo de TOC.

A grande questão da trama é que o psiquiatra estava entre eles, também com um transtorno, e, disfarçando-se de paciente, pôde estabelecer empatia e permitir conexão entre todos. Com isso, ele se torna um facilitador e catalisador de processos terapêuticos narrados com expectativas, medos, melindres e ansiedades.

O enredo acontece em cinco etapas:

  1. Momento de desconforto – quando todos chegam e se incomodam um com o outro;
  2. Momento em que cada um se apresenta, pelo seu TOC, comentando suas dificuldades;
  3. Momento de enfrentamento do TOC, funciona quase como uma terapia de choque para cada um;
  4. Momento lúdico em que cada um consegue ajudar o outro em seu sofrimento;
  5. Momento em que as pessoas se encontram consigo mesmas, se reconhecem umas nas outras e voltam para suas rotinas transformadas.

O mais interessante é que, quando o psiquiatra, ainda disfarçado de paciente, revela o que trouxe a saúde mental a eles: o fato de, por alguns instantes, terem esquecido um pouco de si mesmos. Essa atitude de deixar o “eu” de lado é o maior presente que pode ser dado a si mesmo. Desgarrados de suas imagens concretas e de suas certezas sobre si mesmos, eles puderam estar livres e focados em ajudar o outro; e, assim, conseguiam não apenas ver os outros, bem como a si mesmos.

 

Vantagens, para os pacientes, da postura do psiquiatra (protagonista):

  • Empatia de todos com todos;
  • Respeito pelo sofrimento alheio;
  • Disposição para a troca de afinidades e exposição de seus dramas;
  • A liderança estava nas mãos do psiquiatra, mas ela também circulava pelos membros do grupo;
  • Possibilidade de falar de si e enfrentar os medos sem a figura de autoridade;
  • Possibilidade de enfrentamento do sintoma;
  • Humor como artifício e ferramenta para a resiliência nessas situações de estresse.

Ao final, apenas o psiquiatra não se cura, mas se mostra conformado com sua real limitação e o bom uso que faz dela.

 

Como me comporto nos treinamentos

Quando ministro treinamentos, comporto-me de modo semelhante ao Raul (do texto do Raul e do Pena) e ao psiquiatra dessa peça TOC TOC. Sei que tenho a postura de autoridade e que a liderança do treinamento deve estar em minhas mãos, mas priorizo o movimento criado pela fala dos participantes. Com a escuta apurada, momento em que verifico e valorizo a história e a bagagem dos participantes, entrelaço-as à minha bagagem e as meus objetivos estabelecidos em questão e construo, naquele momento, a essência do treinamento.

 

A importância dos treinamentos presenciais

Todos que passam por meus treinamentos sabem que o material que utilizo como base – PowerPoint e textos – são meros guias de referência e estabelecimento de focos de atenção e discussão. Não dou total apreço a eles, por serem constructos teóricos. Na minha concepção, o importante do treinamento presencial é o que acontece ali, durante o treinamento. Troco e-mails e monto grupos de whatsapp nos quais todos podem se manifestar e em que tarefas são enviadas para serem cobradas, além do compartilhamento dos artigos do meu blog, que escrevo para dar apoio ao aprendizado. Vivido em conexão com o tempo real do participante. Confira aqui como isso acontece.

E comento isso com todos: o treinamento que é montado pelo instrutor é teórico e teoria é importante, mas não muda nossas vidas. O que nos transforma são experiências marcantes e impactantes que fazem a diferença, além da criação e estabelecimento de rotinas baseadas no sentido e na repetição, que também trabalho cognitivamente.

Se, no decorrer do treinamento – e após o mesmo – as experiências forem significativas, os participantes modificarão suas histórias e consequentemente proporcionarão mudanças em suas realidades. E aquilo que eu digo: não temos que mudar os outros, temos que mudar a nós mesmos e sermos agentes de apoio ao desenvolvimento alheio – para aqueles que o conseguem, evidente.

A meu ver, essa é a principal função de um treinamento presencial. E eu, como palestrante e instrutora de treinamentos, mantenho-me neste papel de facilitadora, porque vejo, à quem me compreende, a reflexão brotar nos olhos e isso muito me interessa. Mas, reconheço e respeito que, se os participantes – ou as instituições – não estiverem buscando efetivamente reflexões e questionamentos para reais mudanças na maneira de ser e estar no mundo do trabalho e na vida, aconselho a versão mais conservadora de treinamentos online e leituras.

 

Referências:

QUIQUINATO, M. TOC TOC, Guia da Semana. Disponível em: <https://www.guiadasemana.com.br/arte/noticia/toc-toc>, acesso em 27/05/2018.

OLIVEIRA, J.C. Simplesmente líder. Disponível em: <http://gestaonaeradoconhecimento.blogspot.com.br/>, acesso em 27/05/2018.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Coach, Palestrante, Psicanalista. Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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