Resiliência e Transcendência

espelho

Afinal, o que é essa tal “resiliência”? Resiliência foi a palavra mais buscada nos dicionários no ano de 2015, como revela a reportagem a seguir: http://pplware.sapo.pt/informacao/resiliencia-foi-a-palavra-mais-pesquisada-em-2015/. Logo, isso diz muito de nosso momento atual.

Acredito que resiliência é um termo complexo de definir. Teve início na Física trazendo atributos como flexibilidade, elasticidade, e adentrou para a área de Humanas evoluindo para fortalecimento, superação e até mesmo transcendência. Transcendência, como nos mostra Guimarães Rosa em alguns de seus contos das Primeiras Estórias, como “A Terceira Margem do Rio” e “O espelho”, aponta para a capacidade de reconhecermo-nos para além da mera aparência. Somos meras metáforas e, no limite do limite, somos seres sem “forma”.

E, então, convido-os a questionar: onde estão nossos limites? De que valem? Quem os traça? Quem os vê? Quem os respeita ou desrespeita?

Quando não nos perguntamos, alguém vem e nos dá a resposta. Percebi bastante isso ao trabalhar com essa questão no ambiente organizacional, onde este termo foi subutilizado de modo a defender a importância de ser resiliente para “aguentar”, “suportar” a rotina pesada de trabalho. Com controle emocional rígido e objetividade máxima, eles poderiam atingir resultados mais notáveis. Resiliência passou então a ser compreendida como resistência, resistir às pressões cotidianas. E muitas vezes acreditamos mesmo nisso. Já na nossa história ouvimos frases do tipo: “Engole o choro”, ou então “Homem não chora”, “Não tenho tempo para pensar, só para produzir”, e nomeamos tais pessoas de “fortes”. E agora, de resilientes. O que, na verdade, não acontece, pois quando a corda, de tão esticada, se rompe, nunca mais retorna ao estado original (fenômeno conhecido como “síndrome de burnout”). Aí acabou a possibilidade de resiliência.

Primeiramente precisamos compreender então que resiliência não é uma característica de personalidade e, muito menos, inato. É incorreto pensar: uns são resilientes e outros não o são. Ser resiliente é algo que se desenvolve, conquista-se com treino de habilidades. No entanto, nem sempre iremos conseguir utilizar tais ferramentas em momentos de stress, porque não temos garantia de que nesses momentos conseguiremos manter nossa mente em equilíbrio e agir adequadamente. Isso é ser/ter sido resiliente. E essa não garantia acontece porque “nossa mente é um tesouro sem dono”, já dizia um sábio. Não somos donos de nossos pensamentos, emoções e ações. Ao contrário, somos vítimas deles e não fomos ensinados a ter um controle emocional saudável. Assim, ou explodimos ou nos contemos demais, mas dificilmente conseguimos estar no meio termo, bem ali onde é possível ter uma visão clara das situações e agir de modo objetivo, como pede a situação, com a clareza das emoções a nosso favor.

E se não há como ser um “ser resiliente”, a boa notícia é que é possível “estar resiliente”. E essa é uma busca constante que devemos ter ao longo de nossas vidas, momento a momento, reconhecendo o quão efêmeras são as nossas qualidades consideradas mais intrínsecas e o quão necessário se faz questionar nossas percepções, nossas críticas e opiniões, principalmente quando elas vêm a nos defender a todo custo.

Liberte-se da necessidade de se defender e de atacar, solte as verdades, as certezas e seja bem-vindo ao novo modo de viver, conquistando espaços a cada momento, que intitulei “to be resilient”: ser/estar resiliente. Já que os limites não existem, mas se fazem, seja você mesmo o movimento e a vida. Seja, ao mesmo tempo, efêmero e consistente, como a vida deve ser.

CrisM.

2 Comentários


  1. Cris querida, parabéns pela sua iniciativa.
    Sinto-me tremendamente orgulhosa de ter em minha rede alguém da sua competência num assunto tão contemporâneo como RESILIÊNCIA.

    Sabia que existe uma Deusa hindu de nome DURGA que é a inspiração para LIMITES. Tão milenar e tão atual, sem dúvida, nosso desafio em viver melhor, integralmente, interessantemente …está conectado também a nossa capacidade de negociar os limites da nossa resiliência.
    Feliz 2016, com uma margem de limites e resiliência suficiente para manter a vida saudável & interessante 😀

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    1. Olá Raquel!

      Obrigada pela sua mensagem. É isso mesmo, trata-se de um termo tão milenar e tão contemporâneo, que precisamos revisitá-lo sempre. Interessante essa questão da mitologia, ela também contribui bastante para a nossa compreensão para além do racional.

      Um abraço,

      CrisM.

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