Resiliência: uma questão do ambiente e não de status

 

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Se observarmos na História aqueles que foram “ícones” da resiliência, tais como Boris Cyrulnik e demais participantes de campos de concentração ou de outros momentos de forte tensão social ou política, perceberemos que eles trazem consigo a importância do ambiente em sua recuperação e reconstrução de si mesmos.

Ambiente aqui trata-se de laços de estrutura familiar, social e até religiosa, que nos proporcionam e nos autorizam na criação de suportes internos que nos revelam a esperança de novos enlaces. O ambiente como sendo, ao mesmo tempo, nutriente e nutrido por aqueles seres que ali coabitam. Numa troca saudável, há lugar para todos existirem. Há lugar para criação, construção e flexibilização de ideias e comportamentos. Há menos vulnerabilidade, pois algo de real, que permanecerá vivo em cada ser, será mantido e levado para as demais relações, transformando realidades.

Vivemos uma escassez de ambientes saudáveis, pois estamos imersos na cultura do ego. Cultura calcada na imagem, no parecer ser, que desfaz o que temos de mais precioso: a construção pelas relações.

A história da adolescente vítima de estupro coletivo recentemente no Rio de Janeiro traz-nos à reflexão o quão estamos distantes da criação de ambientes saudáveis e proporcionadores de condições de resiliência. Muito se falou da “cultura do estupro”, do machismo, que muito contribuiu para que essa catástrofe ocorresse. E, de fato, a nossa cultura valoriza o poder, o domínio de um sobre o outro, a relação de objeto, a violência. Nessa visão, dor e glamour andam juntos e valorizam o ego de alguns em detrimento da exclusão dos demais.

Nessa história que acabamos de presenciar, tão triste e amarga, ninguém é forte. Egos destruídos e inflados querem destruir outros tantos. Estão todos solitários. Não há homens contra mulheres, adultos contra adolescentes, não há relação sexual, não há nada. Apenas ódio embasado num poder vazio. Como pensar em resiliência nesse caso?

Mesmo estando sozinha naquele momento, aquela moça teve sua dor representada por mulheres de dentro e de fora da nossa nação. Num uníssono, todas se uniram. Desse lugar, de onde brota o ódio e a amargura, também o desejo e a necessidade de mudança, de um novo olhar, pode finalmente se fazer existir. A resiliência vai poder nascer em ambientes de apego seguro, de abrigo, aconchego, quando homens e mulheres deitarem ao chão as suas armas, sejam elas verbais ou físicas, os rótulos, os estigmas, as doutrinas, e reconhecerem as suas semelhanças, numa comunicação não-violenta e verdadeira. Aí sim poderemos falar em resiliência.

CrisM.

 

 

 

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