SOMOS GRÃOS

graosO perigo existe, mas o medo é uma escolha.

filme “After Earth”

 

Em nome de quê brigamos?

Atualmente, no auge do individualismo, em que praticamente todos se preocupam apenas consigo, as ciências, que em seus conhecimentos se somam, insistem em mostrar-se diferentes. Afinal de contas, até há pouco tempo, e ainda hoje, as figuras valorizadas são as dos especialistas (líderes Y) das mais diversas ordens, cujo foco ficou tão profundo, que os limites ficaram evidentes e até mesmo intransponíveis.

Na Psicologia, as linhas teóricas discordam e discutem. Psicologia e Coaching, muitas vezes, também. Os profissionais se entreolham desconfiados, não no sentido de apenas defender o modo como pensam e agem, mas muitas vezes de um modo extremista, como se fosse possível pensar em uma verdade única e estável. Todos querem fazer valer a sua verdade e gritar cada vez mais alto. Mas os estudos continuam e as disparidades se entrecruzam, ou mesmo as semelhanças começam a se desencontrar e pegar caminhos paralelos.

E para quê?

 

Contrargumentar para delimitar-se perante o perigo

Num artigo* de Christian Ingo Lenz Dunker, o psicanalista lacaniano rebate contra argumentos de ataque feitos à Psicanálise por Ivan Izquierdo em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo (em 18 de junho último), em que Izquierdo afirma que

“A Psicanálise hoje é um exercício estético, não um tratamento de saúde. Se a pessoa gosta, tudo bem, não faz mal, mas é uma pena quando alguém que tem um problema real, que poderia ser tratado, deixa de buscar um tratamento médico achando que a psicanálise seria uma alternativa”.

 

E Dunker alfineta, dentre outros argumentos:

“‘Mudar uma palavra ressignifica toda a memória’, exatamente como a psicanálise sempre postulou. Mudanças na experiência de linguagem afetam todas as funções psicológicas: memória, atenção, emoção e percepção”.

E argumenta evidenciando contradições impertinentes.

 

O perigo está no modo como olhamos para dentro e para fora

Quem nunca foi discriminado por se identificar e seguir uma determinada linha teórica? E os argumentos, infundados, tendem a contradizer-se mais e mais… Afinal, estamos olhando para quem? Para o paciente, para a instituição em que trabalhamos, ou para o rótulo que escolhemos seguir?

Já que estamos na era das incertezas em que a todo momento o contrário se põe à prova, ater-se a algo de modo a colar-se nessa realidade enquanto certeza parece quase ilógico… É preciso pairar por um instante, olhar com serenidade, respeitar e seguir confiante, mas sem ater-se às certezas.

 

Resiliência: um novo olhar

A resiliência facilita um olhar para o todo e para a relação entre as partes no exato instante em que aquelas conexões estão sendo formadas. Lidar com este momento vale mais do que crenças e valores profundos que carregamos e dos quais nos fazemos valer a todo custo, mesmo num momento como o atual que desconsidera a todo instante e dissolve o castelinho de areia que lutamos em construir e chamar de nosso.

Tememos não sermos vistos, por isso agarramo-nos em nossas verdades e lutamos por elas com unhas e dentes. De fato, podemos passar despercebidos. Mas o maior perigo talvez seja o oposto: querermos existir tanto que precisamos matar o outro (ou o argumento alheio) para nos fazer presentes. Num mundo assim, não pode existir efetivamente nada.

Se tal perigo existe e nosso medo é uma escolha, de que vale esse medo? Poder sentir-se parte de um todo, por mais que este todo esteja em pedaços (como o mundo de hoje), é compreender que menos perigoso é reconhecer que nosso castelinho é de areia, mas enquanto essência estamos ali, na horizontalidade da praia, como todos os grãos, sujeitos a ondas e tsunamis.

 

*http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/em_algum_lugar_do_passado.html

 

Grande abraço,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Orientadora Profissional e de Carreira e Coach. Escritora (crônicas literárias, artigos acadêmicos e profissionais). Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (vida e carreira), ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome de sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve duas vezes por semana neste blog (segundas e quintas-feiras). Acompanhe.

Contato: crifmonteiro@gmail.com

 

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