Existo onde não penso?

Já dizia Lacan: “Existo onde não penso”. Mas continuamos a procurar e costurar sentidos na tentativa de assim, existirmos.

 

Uma paciente minha J.E., poeta, chegou numa sessão com seus escritos. Leu-os para mim. Eu, estarrecida, logo pedi: “Por favor, deixe eu copiar e fazer um post para o meu blog?”.

J.E. tem questões referentes ao corpo (psicossomática) e à vida. E aqui está, nas mais belas palavras, o relato de sua dor, bem como de seus esforços e fôlegos para retomar a vida diariamente.

J.E. transborda em palavras:

Lacunas: espaço vazio, real ou imaginário, falta, falha, pequena depressão ou cavidade. Sim, há um grande espaço vazio dentro de mim: real ou imaginário? Não sei. Vejo ‘O Fantástico Mundo de Bob’ e nunca mais sei quando é a realidade ou imaginação. Mas, se o mundo é a forma como criamos, eu crio o vazio, este espaço. O imaginário se faz real e o real se faz presente.

Falha: sim, quantas falhas cometidas, erros sem reparar, muitas culpas atreladas e o medo maior ainda de falhar em todos os sentidos.

Falta: carência afetiva, querer ser aceita, agradar a todos… É consequência? Falta alegria, leveza, acolhimento, cuidados, sonhos, apoio, alguém pra caminhar junto, para dar as mãos… Isso existe? Ou é imaginário?

Falta razão para viver, falta iniciativa, falta acreditar, mesmo que a princípio no imaginário. Falta viver mais.

“Pequena depressão”, foi a sugestão de uma psicóloga. Será que realmente estou com depressão?

Cavidade, espaço apertado, estreito. Aperta o peito, dói, espreme. Eu me coloco neste espaço, nesta prisão, neste aperto enquanto há um mundo de possibilidades fora desta cavidade.

Bem, dois meses depois ao reler as reflexões me deparo com algumas contradições e até mesmo respostas de questionamentos feitos antes.

Se não há lacunas, espaços entre as minhas articulações, então não há falta de espaços! Não há o que preencher, mas há falha no articular, há falta de cartilagem, de cuidado. Preenchendo a falha, cuidando suspende a dor? Preencho as lacunas?

Psicologia pode até ser a ponte entre os mundos, mas eu realmente desejo ser essa condutora?

Espaço apertado, prisão, cuidados, espaço vazio, imaginário, real, barreiras, pronunciar, dizer, articular, sistema, juntas, juntar.

Sim, me sinto presa, me fecho, construo as minhas barreiras, me imobilizo, me seguro, não gosto de me juntar, não me sinto confortável com a palavra sistema (regras). Tenho dificuldade de me expressar (tinha).

O que sou?

O que quero?

Não sei!

Provar para mim mesma que sou capaz! Libertação.

Ação. Como agir? Como soltar?

 

Viagem para Ilha Bela

Vir para a ilha mesmo não sendo da forma como eu queria, mesmo me sentindo irritada quando na verdade eu queria desestressar…

Foi bom! Foi bom pra ver que posso, que sou livre, que tem muita coisa boa, que tudo é momento e que sou uma ótima companhia para mim mesma.

Foi bom o contato com a natureza e perceber que não tenho saídas, que estou inserida neste mundo de todos, por mais que eu não queira e tente me isolar, não fazer parte, ali estou.

Como lidar com isso? Ainda não sei… Não sei como eliminar a raiva, a irritação… Não sei! Não sei como administrar isso!

Quero experimentar mais, quero descobrir mais…

Pra que? Não sei! Mas quero! Ainda me invade a sensação de: o que estou fazendo aqui e para quê? Não vejo muito sentido em tudo isso.”

Costurar, costurar e…?

Pois é… Existo onde não penso…

 

E você? Se identificou com este relato?

Então escreva para mim e vamos conversar a respeito.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga, Psicopedagoga, Coach, Palestrante, Psicanalista. Atende na Clínica com Psicoterapia (enfoque psicanalítico) e Coaching em Resiliência (controle do estresse). Ministra palestras e treinamentos comportamentais em nome da sua empresa (Ponto de Palestras e Treinamentos). Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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