Mindfulness e Resiliência: ferramentas para o cotidiano

Meu interesse em escrever sobre Mindfulness hoje é manter a contínua lembrança da atenção plena de modo que seja possível se empenhar em aplicar esses ensinamentos a diversas situações da vida cotidiana.

Considerar que o Mindfulness é embasado na fonte budista e traz consigo ensinamentos valiosos que servem de referência para sabermos clarear o que nos obscurece e identificar o que temos de mais precioso, de modo a termos uma vida baseada em sabedoria para o benefício próprio e para os outros.

 

Ensinamentos Budistas

“O desejo por si só não é a raiz do sofrimento; o desejo incontrolável é.”

(HANSON e MENDIUS)

 

Segundo Wolf Singer e Matthieu Richard, o Budismo pode ser compreendido como a “ciência da mente”. Ele nos auxilia a caminhar da confusão à sabedoria, do sofrimento à liberdade, pois consegue examinar a mente de maneira empírica ao propor uma abordagem não dualística da realidade. Tem por base a importância de uma mente bem treinada, transformação gradual de emoções, temperamentos e traços de personalidade.

Os três venenos mentais segundo a tradição Budista são:

    • Ganância: apego ao que gostamos
    • Ódio: raiva do que não gostamos
    • Ilusão: ignorância (de não reconhecer que tudo está conectado e que é mutável)

     

    Como nos libertamos desse ciclo?

    Assim como fazer ginástica é necessário para manter corpo em forma. Com a nossa mente, não é diferente. Sem fazermos esforço algum, como podemos desejar mudanças? A ginástica da mente é a meditação, que consiste no treino para desenvolver um enriquecimento interior, de modo a transformar o modo como percebemos as coisas e, com isso, melhorar nossa qualidade de vida. Afinal, é a mente que cria nossa experiência e a traduz como bem-estar ou sofrimento.

    Quanto mais tendências positivas forem profundamente elaboradas em diferentes níveis do cérebro, mais esses venenos mentais serão empurrados para fora. Para isso, temos que compreender as causas do sofrimento e o modo de acabar com ele, desprendendo-se do que é nocivo e fortalecendo o que lhe faz bem.

Consciência, clareza e sabedoria

A meu ver, a grande essência do treinamento da mente a partir do mindfulness é avançar em diversas áreas da vida como autoconhecimento, relacionamentos afetivos, expansão da criatividade, suporte à comunicação (com escuta ativa e a fala autêntica) e, notavelmente, à saúde mental.

As práticas constituem métodos simples, diretos e poderosos e têm por principal intenção reconhecer e desapegar de padrões mentais familiares que sejam pouco produtivos ao mesmo tempo em que se cultiva a espontaneidade de viver possibilidades novas disponíveis a todo instante.

Apesar de não termos sido educados para entender o funcionamento mental, é importante estarmos atentos ao nosso desenvolvimento pessoal, bem como a nossos compromissos conosco, com os demais, com o meio social e com a vida (espiritualidade).

A partir de um olhar genuíno para si, em que é possível se ver de fato para, então, usar as próprias limitações para atingir um potencial maior. Afinal, nossa agitação, conflitos e hábitos podem ser o portal para outra dimensão do ser, numa nova experiência, com consciência ampla.

 

Por onde começar?

Inicialmente, é importante reconhecer que não é fácil mudar ou controlar a mente. Percebemos isso quando tentamos, por exemplo, modificar situações em que não somos capazes de mudar um hábito ou um comportamento padrão simplesmente pelo desejo ou pela intenção de mudá-lo. A questão é não saber como fazê-lo.

“Isto ocorre simplesmente porque muitos dos nossos padrões habituais existem em um lugar mais profundo do que nossas boas intenções são capazes de alcançar, e, por isso, as nossas intenções não têm o poder de efetuar a mudança que desejamos.” (RINPONCHE, 2013).

Por esta perspectiva, é válido compreender que não devemos mudar nada inicialmente nas situações que vivemos, agindo de modo impulsivo conduzido pelo desconforto.

É preciso apenas uma postura de aceitação para a abertura, único momento em que é possível encontrar a solução verdadeira para a situação ou o problema apresentado. Tal postura é favorável ao contato com a consciência direta (ou consciência não-conceptual), que tem sua natureza aberta e clara, ao invés de manter a identificação com os problemas, resolvendo-os pela mente que busca explicações racionais.

 

Mindfulness para uma nova vida

Confiar e se familiarizar mais com o poder de residir no presente tem aplicações muito práticas em nossas vidas cotidianas. É importante examinarmos de perto o que estamos fazendo de nossas vidas, de nossos relacionamentos conosco, com família, amigos, na vida profissional, como cidadão do mundo, bem como reconhecer quais são as áreas em que você deseja ver mudanças numa direção positiva.

 

Referência:

HANDON, R., MENDIUS, R. O Cérebro de Buda. Neurociência prática para a felicidade.São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.

 

RIPONCHE, T. W. Despertando o Corpo Sagrado. Trad. Elaine Ferreira Batista. São Paulo: Devir, 2013.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae), psicanalista e instrutora de Mindfulness Baseado em Terapia Cognitiva (Mindfulness Based-on Cognitive Therapy – protocolo MBCT), em formação, pelo Mente Aberta (UNIFESP) em parceria com o Oxford Mindfulness Centre. Cursando especialização em Teorias e Técnicas em Cuidados Integrativos na UNIFESP. Palestrante e proprietária da empresa “Ponto de Diálogo e Reflexões”. Realiza atendimento com psicoterapia (Psicanálise) e com grupos (Programas de Mindfulness/Atenção Plena).

Contatem-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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