“Valores universais estão em declínio. Por isso, cada vez mais pessoas são tomadas por um sentimento de falta de propósito, ou de vazio, ou, ao que costumo chamar de vácuo existencial. No entanto, mesmo se todos os valores universais desaparecessem, a vida continuaria cheia de sentido, já que os sentidos únicos permanecem intactos mesmo com a perda das tradições (Frankl, 1988).
Significado e Valores da Vida
Podemos defender que a grande doença do nosso tempo é a falta de direção, o cansaço e a falta de significado e propósito. Sofremos hoje do vazio existencial que tem frequentemente levado a uma frustração existencial.
A abordagem filosófica de Viktor Frankl, cujo pensamento antropológico revaloriza a dimensão espiritual e a aplica à existência humana, mantém a transcendência como fonte e fim dos verdadeiros valores.
Sua proposta fundamenta-se em significados e valores.
Segundo ele, podemos encontrar e descobrir o significado da vida através de três experiências basicamente humanas, sendo elas:
Valores de criação (trabalho): referem-se ao que o ser humano dá na forma de trabalho, criação, transformação. O trabalho enquanto vínculo entre a pessoa e a comunidade.
Valores da experiência (amor): referem-se ao que o ser humano recebe livre do mundo, na forma de experiência artística, filosófica, literária etc. Contemplar a beleza da natureza é uma das melhores maneiras de encontrar o sentido da vida.
Valores de atitude (sofrimento): referem-se a encontrar significado para o que é mais complexo: o sofrimento. Vale considerar que a sociedade e as mídias sociais não nos preparam para o sofrimento ou a experiência do espiritual. A imagem da pessoa que sofre não é defendida ou valorizada pela nossa cultura; pelo contrário, seu intuito consiste em enfatizar o valor do sucesso, da juventude e do poder ilimitados.
Na visão do Mindfulness, podemos aproximar essa ideia do olhar de principiante, ou seja, pleno de curiosidade, como o olhar de uma criança. Tal olhar já reconhece o colorido da vida e promove associações que nos encaminham para nossas direções.
Sentido da vida e a importância do descentramento
Ainda na ótica do Mindfulness, a variável descentramento abrange olhar para além de si: tirar o foco de si e se projetar no mundo.
Para Frankl, o ser humano precisa reconhecer que o fundamental em sua vida é a consciência de sua liberdade e a responsabilidade aí impingida, de ser único, chamado a buscar o sentido da vida e a realizar os valores. Somado a isso, a consciência de sua finitude o põe em contato com a abertura à transcendência.
Este autor desenvolveu dois de seus pensamentos fundamentais: que não cabe questionarmos sobre o significado da vida, pois somos os interrogadores, além disso, o significado último transcende nossa capacidade de compreensão. Para ele, o ser humano, para viver tem, acima de tudo, necessidade de significado.
Nessa busca, o interesse mais profundo não deverá ser o de olhar para si mesmo, mas voltar o olhar para o mundo exterior, em busca de um sentido. A pessoa se auto-realiza justamente na proporção em que “esquece de si mesmo” enquanto se dedica a um trabalho ou a uma pessoa (Frankl, 1948/1993).
Sendo assim, na medida em que o homem desempenha papéis sociais, age e realiza suas tarefas, passa a conhecer-se, formando sua visão de mundo e encontrando um sentido para a vida.
Tal sentido só pode ser descoberto por ele mesmo, por mais ninguém. Cada um é responsável por descobrir o sentido de sua vida. E é na busca deste sentido que a angústia, o vazio e o tédio se dissipam.
Espiritualidade e Fé
Para Frankl, o que destrói uma pessoa não é o sofrimento, mas o sofrimento sem sentido. A compreensão ou a vivência da espiritualidade em se tratando de cuidados paliativos, por exemplo, dá um sentido de continuidade quando expressam que a vida não termina com a morte do corpo.
Por meio da espiritualidade, é possível atribuir sentido ao sofrimento e até mesmo aliviá-lo. Ao considerar a fé, a oração e a meditação como suportes para o enfrentamento, nota-se uma melhora nos sintomas.
Em situações de sofrimento inevitável extremo, o que se espera é que a pessoa suporte a incompreensão racional da vida, buscando seu sentido incondicional – também chamado supressentido –, independentemente das circunstâncias. Tal sentido só pode ser apreendido pela fé, confiança e amor. Ele não pode ser compreendido pela busca de respostas racionais, mas pelo sentido potencial da vida, que é incondicional.
Tem-se aqui que o sentido de valorização para o tempo de vida que resta, demonstração de gratidão por cada dia a mais, esperança, confiança e entrega.
REFERÊNCIAS:
ARRIERA, I. et al. O sentido da espiritualidade na transitoriedade da vida. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS, Brasil. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452017000100212&lang=pt> acesso em 16/12/2019.
PEREIRA, I.S. Mundo e sentido na obra de Viktor Frankl. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 39, n. 2, pp. 159-165, abr./jun. 2008.
SILVEIRA, D. R.; MAHFOUD, M. Contribuições de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência. Estud. psicol. (Campinas) vol.25 no.4 Campinas Oct./Dec. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2008000400011&lang=pt>acesso em 16/12/2019.
VÁZQUEZ, R., Amor verdadeiro como único significado. Universidade Católica Nossa Senhora da Assunção (UC). Paraguai.
Sigam-me,
Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae), psicanalista e instrutora de Mindfulness Baseado em Terapia Cognitiva (Mindfulness Based-on Cognitive Therapy – protocolo MBCT), em formação, pelo Mente Aberta (UNIFESP) em parceria com o Oxford Mindfulness Centre. Cursando especialização em Teorias e Técnicas em Cuidados Integrativos na UNIFESP. Palestrante e proprietária da empresa “Ponto de Diálogo e Reflexões”. Realiza atendimento com psicoterapia (Psicanálise) e com grupos (Programas de Mindfulness/Atenção Plena).
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