Sentido de Vida e Saúde Mental

“No caso do sentido, no entanto, não se trata de uma ‘figura’ que salta de um ‘fundo’, trata-se da descoberta de uma possibilidade diante do pano de fundo da realidade. Na verdade, trata-se da possibilidade de se transformar a realidade” (FRANKL, 1981)

 

Podemos considerar que encontrar sentido na vida está relacionado a um equilíbrio entre perdas e ganhos, dar significado para as atitudes e os eventos cotidianos e ter um propósito na vida.

O sentido de vida também pode ser definido como uma rede cognitivo-afetiva que abrange metas, comportamentos e padrões de autoavaliação, é direcionado pelos valores da vida e está associado à saúde mental.

“Cada geração percebe o sentido de vida de formas variadas, mas há pontos que são comuns, como as necessidades básicas de comer, de se abrigar e de segurança, necessidade de lazer, trabalho criativo, relacionamento pessoal, realização e crescimento pessoal e social, ativismo político, altruísmo, valores tolerantes e ideais, tradição, cultura e religião” (Reker, Peacock, & Wong, 1987).

Tal constructo abrange uma dimensão individual, como também tem um componente cultural. Estar inserido no contexto social, sentir-se parte da cultura faz com que muitos fatores relacionados ao sentido individual sejam compartilhados pela coletividade, na atribuição de significados.

 

Continuidade, estabilidade e manejo do estresse

A ideia de continuidade envolve a estabilidade autopercebida (continuidade interna) – essencial para a integridade do ego e necessária para a autoestima – à rede de suporte social e à interação na comunidade (continuidade externa).

Estudos sobre o desenvolvimento humano apontam para a compreensão da estabilidade e/ou mudança e sua ligação com a saúde – considerando aqui fatores associados à adaptação e ao ajustamento – já que a saúde mental, por exemplo, tem bastante relação com a dificuldade de aceitação e ajustamento social.

Em diversos deles, baseou-se na hipótese de que o sentido na vida poderia ser importante nas estratégias positivas de enfrentamento e manejo do estresse. Os resultados apontaram relação significativa entre o sentimento de vazio existencial e reações agressivas.

Tendo em vista indivíduos que apresentam sentido de vida, por exemplo, tal influência pode ser importante para sua saúde na medida em que aponta melhores resultados na recuperação de doenças, no enfrentamento de enfermidades de entes queridos e menores chances de adoecer.

A capacidade de perceber a situação e as capacidades realizadoras de modo mais realista auxilia no sucesso de persecução e efetivação das metas. Além disso, ter um propósito e ser otimista são fatores de proteção contra a depressão.

 

Obra: Em Busca de Sentido e sua relação com o Mindfulness

Em sua obra Em busca de sentido, Frankl provoca reflexões acerca da temática em torno do sentido na vida por meio de uma narrativa testemunhal de sua própria experiência, em 1945, como prisioneiro comum em quatro campos de concentração, durante 31 meses e 5 dias.

Nesta obra, percebe-se que é possível amadurecer a partir do sofrimento: não se deve deixar abater ou rechaçá-lo de imediato, mas refletir e procurar um aprendizado e/ou um sentido a partir dele.

Visto sob a ótica educativa, tal narrativa nos conecta ao próprio sentido da vida, quando o autor defende que a educação deve encorajar e desenvolver a capacidade individual da tomada de decisões autênticas e independentes.

A questão central desta obra é: “de que modo se refletia, na mente do prisioneiro médio, a vida cotidiana do campo de concentração?” (FRANKL, 2008, p. 15 apud SANTOS). Ele então nos apresenta um estudo psicológico dos prisioneiros como observador e, ao mesmo tempo, objeto de sua prática de observação. O que vale destacar aqui é que sob os piores aspectos e condições de vida, é possível ainda acreditar no sentido da vida.

A partir de então, conecto à questão do Mindfulness também como construtora de sentido, em que, ao meditar, vivemos a entrega à prática (somos objeto de investigação), ao mesmo tempo em que somos observadores de nossa mente e dos modos como lidamos com as divagações mentais. E, deste modo, é possível perceber o turbilhão e o potencial ativo de nossa mente sem necessariamente se misturar a ela.

 

Referências:

PEREIRA, I. S. Mundo e Sentido na Obra de Viktor Frankl.  PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 39, n. 2, pp. 159-165, abr./jun. 2008

SANTOS, D. M. Educação para sentido na vida e valores: percepção de universitários a partir do livro “Em busca de sentido”, de Viktor Frankl*. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722010000200009&lang=pt>, acesso em 19/12/2019.

SOMMERHALDER, C. Sentido de vida na fase adulta e velhice. Psicol. Reflex. Crit. vol.23 no.2 Porto Alegre  2010, Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722010000200009&lang=pt>, acesso em 19/12/2019.

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae), psicanalista e instrutora de Mindfulness Baseado em Terapia Cognitiva (Mindfulness Based-on Cognitive Therapy – protocolo MBCT), em formação, pelo Mente Aberta (UNIFESP) em parceria com o Oxford Mindfulness Centre. Cursando especialização em Teorias e Técnicas em Cuidados Integrativos na UNIFESP. Palestrante e proprietária da empresa “Ponto de Diálogo e Reflexões”. Realiza atendimento com psicoterapia (Psicanálise) e com grupos (Programas de Mindfulness/Atenção Plena).

Contatem-me: contato@cristinamonteiro.com.br

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