Síndrome da “Gabriela”

“Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela”

Gal Costa

 

Em meus trabalhos, reconheço que o que mais entrava qualquer desenvolvimento é este tipo de pensamento que denomino “a síndrome da Gabriela”. Tendo o mostrar a importância do desapego a esta imagem tão consolidada e real que temos de nós mesmos e a qual fazemos questão de sustentar a qualquer custo. A qualquer custo? Será que vale mesmo a pena?

 

De onde vem essa imagem tão “real” que temos de nós mesmos?

Na década de 1980, a cognição e as emoções eram postas em contraposição, vistas como sistemas mentais e cerebrais separados e antagônicos. Com as pequisas recentes da Neurociência, houve a descoberta dos estilos emocionais, o que proporcionou uma maior compreensão sobre essa conexão.

Segundo DAVIDSON (2013):

“Nosso estilo emocional resulta dos circuitos cerebrais criados, no início da vida, pelos genes que herdamos de nossos pais e pelas experiências que vivemos. Mas esse circuito não necessariamente se mantém (…), pode ser alterado por algumas experiências casuais e também por esforço consciente e intencional em algum momento de vida, pelo cultivo deliberado de qualidades ou de hábitos mentais específicos.”

Ao contrário da personalidade – que não se baseia em mecanismos neurológicos – o estilo emocional pode ser relacionado com um conjunto de propriedades cerebrais específicas características, identificáveis e mensuráveis; e influencia a probabilidade de apresentarmos determinados estados emocionais e humores.

 

As seis dimensões do Estilo Emocional:

As seis dimensões surgiram de estudos científicos sistemáticos sobre as bases neurais das emoções. Cada dimensão do estilo emocional está associada a um padrão específico da atividade cerebral e apresenta uma marca neural específica e identificável. São elas:

 

  • Resiliência: velocidade com que nos recuperamos de uma adversidade;
  • Atitude: por quanto tempo conseguimos sustentar as emoções positivas;
  • Intuição social: facilidade com que captamos sinais sociais emitidos pelas pessoas ao nosso redor;
  • Autopercepção: capacidade de perceber sensações corporais relacionadas às emoções;
  • Sensibilidade ao contexto: capacidade de regularmos nossas respostas emocionais para que correspondam ao nosso contexto social;
  • Atenção: quão aguçada e clara é a nossa concentração.

Os estilos emocionais podem ser vistos como o modo consistente que temos de responder às nossas experiências de vida. Destacam-se por serem constelações de reações e estratégias emocionais que diferem segundo o tipo, a intensidade e a duração e é isso que caracteriza as diferenças individuais e a singularidade de cada indivíduo.

 

Meditação e Neuroplasticidade

Vale considerar que o estilo emocional, apesar de nos apresentar uma certa tendência ou um padrão, não é fixo ou tão real quanto nos parece. Devido à neuroplasticidade, há a possibilidade de modificar sua estrutura e função de maneira considerável a partir de nossos pensamentos e intenções.

Em sânscrito, a palavra meditação também significa “familiarização”. Assim, o primeiro e mais importante passo para transformarmos nosso estilo emocional é familiarizarmo-nos com ele. Ao conhecê-lo, podemos analisá-lo sem julgamento e aprendermos o seu modo de funcionamento e suas implicações em nossas vidas.

Segundo suas pesquisas, Davidson (2013) pôde concluir que, em pessoas que praticam meditação, tal treinamento mental pode alterar padrões de atividade cerebral, propiciando-nos modificar nosso estilo emocional e, assim, fortalecer o otimismo, bem como a empatia, compaixão e sensação de bem-estar, melhorando a qualidade de vida.

Sendo assim, considero a importância de repensar o “eu sou” para viver o “eu estou”, vivido e construído momento a momento.

 

Referência:

DAVIDSON, Richard., BEGLEY, Sharon. The Emocional Life of Your Brain. Trad. GMT Editores Ltda., 2013.

 

Sigam-me,

 

Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), Psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae) e Psicanalista. Atende na clínica com psicoterapia (enfoque psicanalítico) e coaching em resiliência (controle do estresse) – consultório em Pinheiros (São Paulo). Ministra palestras e treinamentos comportamentais in company pela sua empresa Ponto de Palestras e Treinamentos. Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.

Contate-me: contato@cristinamonteiro.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *